Agricultura Familiar no Brasil
No Brasil, houve grande conquista para os agricultores e as agricultoras familiares com a entrada em vigor da Lei 11.326/2006. Conhecida
 como “Lei da Agricultura Familiar”, ela estabelece as diretrizes para a
 formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e 
Empreendimentos Familiares Rurais no Brasil.
No Brasil, houve grande conquista para os agricultores e as agricultoras familiares com a entrada em vigor da Lei 11.326/2006. Conhecida
 como “Lei da Agricultura Familiar”, ela estabelece as diretrizes para a
 formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e 
Empreendimentos Familiares Rurais no Brasil.
O dispositivo legal reconhece a 
importância social e econômica da agricultura familiar por meio de 
políticas públicas permanentes, seja de crédito, assistência técnica, 
comercialização de seguro agrícola e igualdade para as mulheres, por 
exemplo.
A Lei define como agricultores/as 
familiares aqueles que praticam atividades no meio rural, e que atendam,
 simultaneamente, aos seguintes requisitos:
- Não deter área maior do que quatro módulos fiscais (unidade-padrão para todo o território brasileiro).
- Utilizar predominantemente mão de obra da própria família nas atividades econômicas do seu empreendimento.
-Ter renda familiar predominantemente 
originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento
 ou empreendimento.
- Dirigir o estabelecimento ou empreendimento com auxílio de pessoas da família.
Algumas mudanças ocorridas com a Lei:
- A agricultura familiar passa a ser 
reconhecida como um segmento produtivo e se encerram as dúvidas sobre a 
sua conceituação legal.
- Garante a participação de agricultores e agricultoras familiares na formulação e implementação das políticas.
- As relações de trabalho e 
organizacionais nesse segmento se fortalecem com a aplicação de diversas
 políticas fundamentais para os agricultores familiares, como a da 
Previdência Social.
- Os órgãos governamentais podem adotar 
esse conceito para aplicar outras medidas em benefício do setor, para 
além do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 
(Pronaf).
Agricultura Familiar na REAF/Mercosul
No âmbito da América do Sul, a Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar do Mercosul (REAF/Mercosul), –
 da qual participam representantes governamentais e da sociedade civil 
dos países da região – estabeleceu, a partir da Resolução GMC 25/07 
(2007), os critérios comuns para a definição da agricultura familiar nos
 países do Mercosul.
A Resolução instou os Estados Partes a 
criar registros de agricultores familiares, com o objetivo de direcionar
 as políticas públicas nacionais para este setor, bem como permitir, no 
futuro, um tratamento diferenciado a estes no âmbito regional. 
Art. 1 – Os/as agricultores/as 
destinatários/as das políticas públicas diferenciadas dirigidas ao setor
 da agricultura familiar serão aqueles/as cujos estabelecimentos 
cumpram, no mínimo, todos e cada um dos seguintes critérios:
I) a mão de obra ocupada no 
estabelecimento corresponderá predominantemente à família, sendo 
limitada a utilização de trabalhadores contratados;
II) a família será responsável direta pela
 produção e gestão das atividades agropecuárias; e residirá no próprio 
estabelecimento ou em uma localidade próxima;
III) os recursos produtivos utilizados 
serão compatíveis com a capacidade de trabalho da família, com a 
atividade desenvolvida e com a tecnologia utilizada, de acordo com a 
realidade de cada país.
São também parte da agricultura familiar, 
desde que respeitados os critérios enumerados acima, os/as produtores/as
 rurais sem terra e os/as beneficiários/as dos processos de reforma 
agrária ou programas de acesso e permanência na terra, bem como as 
comunidades de produtores/as que fazem uso comum da terra.
Agricultura Familiar no Mundo 
A articulação entre os movimentos sociais 
que participaram da campanha para o Ano Internacional da Agricultura 
Familiar (AIAF) desde 2008, sob a liderança do Fórum Rural Mundial, e o 
diálogo destas com a FAO e demais organizações internacionais, permitiu 
chegar a um consenso na adoção de uma definição mundial do termo 
“agricultura familiar”.
Em junho de 2013, a 38a 
Conferência da FAO definiu a Agricultura Familiar como uma “forma de 
organizar a produção agrícola, florestal, pesqueira, pecuária e aquícola
 que é gerenciada e administrada por uma família e depende 
principalmente da mão de obra de seus membros, tanto mulheres quanto 
homens. A família e o estabelecimento estão relacionados entre si, 
evoluem conjuntamente e combinam funções econômicas, ambientais, 
reprodutivas, sociais e culturais.”
Segundo a FAO, “há hoje mais de 500 
milhões de estabelecimentos da agricultura familiar no mundo”, incluindo
 “pequenos e médios agricultores, camponeses, povos indígenas, 
comunidades tradicionais, pescadores, pequenos pecuaristas, coletores, e
 muitos outros grupos”.
Mais de um terço da humanidade
Há hoje 1,5 bilhão de pessoas em 380 
milhões de estabelecimentos rurais, 800 milhões com hortas urbanas, 410 
milhões em florestas e savanas, 190 milhões de pequenos pecuaristas, e 
mais de 100 milhões de pescadores camponeses. Dentre todos estes, ao 
menos 370 milhões são indígenas. Juntos, estes três bilhões de 
agricultores familiares camponeses e indígenas constituem mais de um 
terço da humanidade e produzem cerca de 70% dos alimentos no mundo.
Apesar disto, a maioria das pessoas em 
situação de insegurança alimentar vive no campo. Segundo o relatório da 
FAO “Estado da Insegurança Alimentar no Mundo”, de 2013, dos 850 milhões
 de pessoas subnutridas no mundo, 75% vivem em áreas rurais.
“Um terço da população mundial é 
formado por pequenos agricultores que cultivam menos de 10 hectares: 
apenas 2% são tecnificados, mais de 70% têm apenas a força de seus 
músculos como ferramenta. No século XXI, a agricultura ainda é o maior 
empregador do mundo, 40% da humanidade gravitam em torno dela”. 
[trecho do artigo “Lições de uma década singular” de José Graziano da 
Silva, Diretor-Geral da FAO. Texto completo publicado originalmente no 
jornal Valor Econômico, em 20/09/2012]
Alimentar o mundo, Cuidar do planeta
No Brasil, o último Censo Agropecuário do 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 
2006, revelou que os agricultores familiares respondem por 84,4% dos 
estabelecimentos do país, ocupam 24,3% da área cultivada e empregam 
74,4% da mão de obra do setor agropecuário. Mesmo com pequena 
disponibilidade de área cultivável, a agricultura familiar é responsável
 pela produção de 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 34% do 
arroz, além de 58% do leite, 50% das aves e 59% dos suínos, dentre 
outros produtos. Responde, ainda, por 9% (R$ 173,47 bilhões) do Produto 
Interno Bruto (PIB) total do país, que foi naquele ano de R$ 1,94 
trilhão - desta forma, o PIB da agricultura familiar é responsável por 
32% do PIB do agronegócio brasileiro, que no mesmo ano chegou a R$ 
540,19 bilhões.
Nos países da REAF, os cinco milhões de 
estabelecimentos de agricultores familiares envolvem cerca de 20 milhões
 de pessoas que trabalham ou dependem do trabalho de suas famílias no 
estabelecimento. De forma complementar, são contratados nestes 
estabelecimentos, de forma permanente ou transitória, cerca de 10 
milhões de pessoas que não são membros das famílias. Assim, a renda de 
cerca de 30 milhões de pessoas nos países fundadores do Mercosul está 
vinculada às atividades realizadas nos estabelecimentos familiares. Os 
cerca de cinco milhões de estabelecimentos da agricultura familiar, que 
representam 83% do total dos estabelecimentos agropecuários dos países 
do Mercosul, produzem a maioria dos alimentos consumidos na região, e 
são os principais responsáveis pelas ocupações no campo.
Tendo em vista o papel primordial já 
desempenhado pelo setor na alimentação da humanidade e na conservação 
dos recursos naturais, ainda que na maior parte dos casos em condições 
precárias, os agricultores e agricultoras familiares – quando 
devidamente atendidos por políticas públicas elaboradas em parceria com 
as suas organizações representativas – podem e devem ser os principais 
atores na erradicação da fome e na conservação dos recursos naturais e 
da biodiversidade.
“Trata-se de resgatar o duplo 
potencial que ela encerra de erradicação da fome e conservação dos 
recursos naturais – elementos centrais do futuro sustentável que se 
impôs à agenda do século XXI. Não estamos falando de um nicho exótico, 
mas de um patrimônio de práticas sustentáveis incorporadas à rotina de 
mais de 500 milhões de pequenas propriedades no mundo. [...]. A 
preservação dos recursos naturais está enraizada na lógica da 
agricultura familiar. Salvaguardar a biodiversidade, contribuir para a 
adoção de dietas mais saudáveis e equilibradas e preservar cultivos 
tradicionais descartados pela grande escala, constituem no seu caso não 
propriamente um recurso de marketing, mas um acervo de sobrevivência 
secular”. [trecho do artigo “A atualidade da agricultura familiar” 
de José Graziano da Silva, Diretor-Geral da FAO. Texto completo 
publicado originalmente no jornal Valor Econômico, em 16/12/2013]
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