quarta-feira, 16 de julho de 2014

Saúde e qualidade de vida para quem produz e consome orgânicos


Saúde e qualidade de vida para quem produz e consome orgânicos
Sítio Aldeia Verde é a única propriedade certificada em Maceió
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Um cenário longínquo, onde homens, mulheres e até crianças apresentam-se em uma situação comovente, com roupas aos flagelos e alparcatas velhas. O brilho nos olhos não é tão intenso como o do sol escaldante e reluzente nas enxadas e facões, que no vai e vem dos movimentos ameaçam as mãos e pés desprotegidos, mas sem o risco de mutilar a fé em São Pedro e tantos outros santos. A terra ainda fértil para os alimentos parece infértil para os sonhos; das sementes plantadas, o brotar de mais um dia da rotina puxada para subsistência.

Popularmente, esse é o imaginário da vida no campo. Na realidade, outras peculiaridades tornam a situação ainda mais piedosa. Mas a condenação perpétua de muitas famílias começa a ser transformada por meio da adoção de práticas agroecológicas, como aconteceu com a família de Edmilson Mendes da Silva.

Agricultura sustentável como diferencial

Natural de Colônia Leopoldina, interior de Alagoas, Edmilson deixou para trás sua terra, na esperança de uma vida menos impiedosa. A paisagem da nova janela já não tinha mais verde, mas era o ano inteiro cinza, a cor dos concretos. Os mesmos problemas, agora em outro cenário. O desgaste físico e os riscos agora eram nos canteiros das obras, como ajudante de pedreiro.

No entanto, há oito anos sua história foi reescrita. Uma oportunidade de trabalho no Sítio Aldeia Verde, de propriedade do engenheiro agrônomo Ricardo Ramalho, e sua esposa Rose, transformou completamente a vida do Edmilson e sua família. Lá, mais do que a legislação do trabalhador rural (Lei 588973 e Decreto 73.62674), os empregados são amparados pelos princípios da agroecologia, que consiste numa agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável.   

“Na roça, eu trabalhava de qualquer jeito: de sandálias, sem luva, mexendo com agrotóxicos e consumindo produtos com veneno. Tanto vi muitos acidentes, como tenho muitas cicatrizes, inclusive um problema na visão até hoje devido ao pó da cana. Na construção civil, também corri muitos riscos”, conta sem entusiasmo Edmilson.

Agora, tanto ele como outras duas famílias desfrutam de uma melhor qualidade de vida, e além de segurança, mantêm alinhadas suas cinco saúdes: física, financeira, mental, familiar e socialecológica.   

Cada família reside em casa com dois quartos, banheiro, cozinha, sala, água encanada e energia, sem precisar pagar nada, no próprio Sítio Aldeia Verde. Elas também consomem o que plantam: alimentos orgânicos, completamente saudáveis, livres de agrotóxicos, sem desconto algum no salário por esses benefícios, que não param por aí. A paisagem multicor e diversificada pelo cultivo de várias culturas, o ar puro, os sons, cores e formas genuínas da natureza não lembra em nada o caos urbano, que fica a menos de 2km dali – o sítio está localizado em Maceió e é a única propriedade que produz alimentos orgânicos, certificada pelo Sebrae na capital alagoana.

Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR

O PNHR faz parte do Programa Minha Casa, Minha Vida e incentiva a manutenção da família no campo, oferecendo moradia digna por meio da construção de casas. Elas devem atender às condições mínimas do Programa, garantindo qualidade, soluções de água, esgoto, iluminação, segurança e acessibilidade.
Podem participar agricultores familiares com renda brutal anual familiar de até R$ 15 mil que não tenham sido beneficiados em outros programas habitacionais; que não tenham restrições no Cadin ou na Receita Federal; que não seja dono ou esteja comprando imóvel residencial urbano ou rural no município; que não seja detentor de área superior a quatro módulos fiscais e que não seja assentado pela Reforma Agrária.
As casas terão 51,90m² de área construída e 69,82m² de área coberta, contendo dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área de serviço. Serão disponibilizados até R$ 28.500,00 para a construção do imóvel. As famílias que estejam no semiárido ou em locais com abastecimento de água irregular serão atendidas também com a construção de cisternas para armazenamento da chuva.
Os grupos devem ter de 4 a 50 participantes com a mesma faixa de renda, sendo agricultores familiares ou trabalhadores rurais. Todas as casas do grupo devem estar no mesmo município ou no máximo em três, desde que façam limites. Os beneficiários irão participar de eventos de capacitação sobre organização comunitária, educação ambiental e saúde, orçamento familiar e trabalho e renda.
Programa Água Para Todos
O Programa faz parte do Plano Brasil Sem Miséria e tem como objetivo garantir amplo acesso à água para as populações rurais nos municípios de Arapiraca, Coité do Noia e Lagoa da Canoa, seja para o consumo próprio ou para a produção de alimentos e a criação de animais.
A captação de água é realizada através da instalação de cisterna calçadão de 52 mil litros, barragem subterrânea e tanque de pedra. Ao todo, 571 famílias são beneficiadas.
As famílias foram selecionadas pelos seguintes critérios: mulheres chefes de família; crianças com até seis anos de idade; crianças e adolescentes frequentando a escola; adultos a partir de 65 anos ; e deficientes físicos ou mentais. Sendo, portanto, prioritárias as famílias que tenham participado de capacitação em bancos de sementes ou outros programas pelo Governo do Estado na produção de alimentos. O prazo do projeto é de 18 meses.
Plano Brasil Sem Miséria
O Instituto Terra Viva iniciou em março de 2011 o Plano Brasil Sem Miséria (PBSM) na agricultura familiar para erradicar a extrema pobreza em seu meio. Com recursos e apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) aplica-se uma metodologia definida com base na transição agroecológica.
Para promover essa evolução, foram selecionadas 1.120 famílias, em 12 municípios do Agreste Alagoano. Tendo como instrumento principal um fomento no valor de R$ 2.400,00/família, o objetivo é a denominada “inclusão produtiva” dessas pessoas, ou seja, passem a produzir, de forma planejada e assistida tecnicamente, e se afastem da miséria.
Muitos projetos limitam-se a medir seus resultados pelo crescimento da renda familiar, desprezando os efeitos sociais e ambientais. A proposta não é essa. O que se busca é a inclusão produtiva, mas acrescentando ganhos sociais e ambientais às comunidades. Os indicadores parciais já refletem, sobretudo, a melhoria na qualidade de vida das famílias.